Editorial do Jornal do Commercio de hoje
Esta é a hora de falar aos que estão chegando ao poder municipal. De lembrar que prefeito é, também, um trabalhador, assalariado pelo povo. Assim como o empregado de uma empresa privada tem que prestar contas ao empregador, o prefeito está obrigado a prestar contas a quem lhe paga a remuneração: o povo. Por isso todos temos autoridade para dizer a ele que ser honesto com o dinheiro público não é uma virtude, mas uma obrigação, e repetir exaustivamente o que se costuma dizer na expressão popular, umas poucas e boas. No bom sentido, claro, até que o dirigente municipal justifique a expressão pelo que ela é: um puxão de orelhas.
Até lá, é preciso acreditar. Como uma trégua necessária ao tremendo desprestígio a que está levada a classe política. Até porque se fomos às urnas e escolhemos os prefeitos e os vereadores, é nossa responsabilidade acompanhar a atividade deles, assumir alguns direitos que a maioria das pessoas ainda não percebeu que tem. Como o de exigir dos governantes que cumpram os programas apresentados nas campanhas eleitorais e até mesmo lembrar a eles que uma bandeira que faz parte da reforma política ainda não foi guardada e esquecida: a cláusula revogatória de mandato. Um sistema complicado para nossa tradição, mas que certamente um dia deverá fazer parte de todas as agendas de avanço e modernização da sociedade brasileira.
A cláusula revogatória nos permitiria – atendidos alguns requisitos básicos, como assinatura de um determinado número de eleitores – pedir de volta o mandato que entregamos sob a condição de cumprimento do programa de trabalho. Mas não é tudo. Para um administrador relapso, incompetente e corrupto sempre haverá recurso legal de impedimento, pelo que cabe também à sociedade estar mais próximas de suas instituições – como o Ministério Público –, para cobrar delas o cumprimento das leis. A efetividade da lei, que tem como pressuposto códigos processuais dinâmicos, ajustados à realidade dos dias de hoje, outra tarefa coletiva que devemos ter pela frente.
Enquanto não chegamos a tanto, cabe chamar a atenção dos prefeitos para o dever de trabalharem mais e fazerem política menos. Até porque trabalhando, fazendo uma boa administração, estarão também agindo politicamente, credenciando-se para outros mandatos. Os problemas urbanos são incontáveis, alguns escandalosos, outros atraem para nossa sociedade o estigma da miséria trágica, caldo de cultura da criminalidade, da prostituição, do trabalho escravo, da morte prematura. E para tudo isso só há uma palavra: urgência. Urge atacar os problemas crônicos de nossa cidade e jamais passar por eles como se estivessem acima das possibilidades de um mandato, um gesto de omissão imperdoável. Há exemplos incontáveis para os quais devemos chamar a atenção de nossos governantes, como na escolha de prioridades. Um deles, muito visível, está aqui bem perto de nós: é assombroso ver que a comunidade do Pilar foi levada ao extremo da exclusão social quando sucessivos governos municipais do Recife gastaram com obras e atividades que poderiam ser adiadas para tempos de mais fartura.
Agora, o novo prefeito promete olhar para aquela comunidade, com o que estará resgatando também parte importante da história da cidade, e esperamos que não seja somente mais uma promessa.
Desta forma, é preciso falar, dizer, lembrar, advertir para a urgência de os governantes terem a percepção das carências e das limitações materiais. Os recursos são escassos, o tempo é curto. Há de se trabalhar com o sentido da urgência, combatendo e eliminando o supérfluo, jamais se curvando ao suntuário, eliminando os vícios e as deformações de máquinas burocráticas desnecessárias.
Se os prefeitos não percebem essas evidências, é preciso criar uma escola só para eles, para que a sociedade não continue vítima da repetição de equívocos, como também acontece por tradição aqui pertinho, em Jaboatão dos Guararapes, a segunda mais populosa cidade de Pernambuco, quase uma segunda capital.
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