Quem somos ?


Existe uma necessidade, dentro de todos nós brasileiros de demonstrar-mos alguma nobreza em nossos nomes. É comum dizer-se que descende de família nobre, vinda de Portugal. Tal afirmação improcede. Na grande maioria, mais na grande maioria mesmo, na maioria esmagadora, temos origens um tanto duvidosas, afinal, a colônia, Terra de Santa Cruz, depois Brasil, descoberta, ou apossada, pelos portugueses em além mar no ano de 1500, precisava ser povoada, e para isso, o reino de Portugal usou do expediente de enviar para estas “novas terras”, neste “novo mundo”, degredados, condenados por crimes praticado na corte.

Vejamos este exemplo:

O Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso em Portugal, foi condenado acusado de diversos crimes, entre eles o de pedofilia, de ter dormido com diversas mulheres, na grande maioria suas afilhadas e deste seu relacionamente resultou em nada menos que 209 filhos, entre seus casos incluía-se até mesmo uma tia com a qual teve três filhos. Na sentença proferida contra o padre Francisco em 1587, dizia o seguinte: será arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado e seu corpo, posto os quartos, cabeça, e mãos em diferentes distritos, como pena pelos crimes cometidos.

A setença nunca foi cumprida, isto por ordem do Rei D. João II, que lhe perdou da morte e mandou o pôr em liberdade no dia 17 de março de 1587, transformando a pena de morte em degredo em terras de Santa Cruz ( Brasil), condenado a viver na Bahia de Salvador como colaborador de povoamento portugês.

Viram?

Entenderam o que disse no início?

Assim como o padre, aconteceu também com milhares e milhares de condenados portugueses, que vieram aportar nestas paradisíacas Terras de Santa Cruz para pagarem seu débito com a o reino de Portugal povoando sua colônia.

Fora estes, outros vieram fugindo da fúria da Inquisição, que perseguia hereges, e entre estes hereges estavam os judeus.

É sabido que Portugal, culturalmente era o país mais atrasado da Europa, e lá, graças a ignorância e a carolice religiosa de seus governantes, a Inquisição agiu por mais tempo, isto forçou a várias famílias a mudarem de nome e fugirem para o “novo mundo” em busca de uma nova vida e de sua sobrevivência.

Assim nasceram quase todos os sobrenomes que reportam-se a árvores, como: Carvalho, Pereira, Oliveira, Nogueira e tantos outros, também sobrenomes como Rodrigues, Moraes e outros, foram criados para formar novas clãs, tranformarem-se em cristãos e serem batizados, dando origem ao que ficou conhecido como “cristãos novos”, era a maneira mais prática de escapar da fúria da Inquisição.

Outros sobrenomes tem suas origens desvendadas. Nomes como: Santos, Pio, Anjos, Conceição descendem de filhos que foram abandonados nas conhecidas “roda dos enjeitados”, que existiam geralmente nos conventos, onde filhos indesejados, na maioria de mães solteiras ou relacionamentos extraconjugais eram deixados e adotados por padres e freiras, estes por sua vez davam aos enjeitados, sempre nomes ligados a religião.

Está é na verdade nossa origem.

Salvo uns poucos, muitos raros que vieram com a corte em 1808, e que na maioria retornaram com ela, não existe nenhuma fidalguia em nossas veias.

Nossas raízes são humildes, ou melhor, somos todos forjados na mesma têmpera.

Em verdade, alguns fidalgos aportaram aqui nesta nossa terra, esses vieram nos navios negreiros. Alguns reis, rainhas, príncipes e princesas negros aportaram aqui vendidos como escravos, vítimas de guerras tribais no seu continente.

O restante é isso que falei, um bando de degredados, condenados, que tiveram como pena a pagar a responsabilidade de povoar todo este continente.

E aqui estamos nós, seus descendentes.

O certo é que aprenderam com seus erros, pagaram suas penas e deram de presente ao mundo este maravilhoso Brasil, com sua gente, alegre, feliz, sem orgulho de fidalguias...

... Isso somos nós.

Tarcísio Rodrigues (jornalista e escritor)

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