A Câmara dos Deputados, supostamente,
a Casa do Povo, deu uma vergonhosa demonstração de incapacidade para lidar com
os movimentos sociais na tarde desta terça-feira (3).
Uma manifestação pacífica da CUT, com
cerca de três mil pessoas, foi recebida pelas polícias legislativa, militar e o
batalhão de choque com spray de pimenta, arma de choque e cassetetes. Dezenas
de trabalhadores foram agredidos e alguns tiveram ferimentos leves.
Presidenta da CUT-PR, Regina Cruz,
conta que a orientação desde manhã era barrar qualquer sinal de mobilização.
“Eu tinha uma audiência com o André Vargas (vice-presidente da Câmara) e,
quando fui entrar na Câmara, começaram a me questionar, perguntar onde eu iria.
Nitidamente estavam filtrando para evitar que o nosso pessoal tivesse acesso”,
comenta.
Para a dirigente, a polícia
legislativa demonstrou um claro despreparo. “Trabalhador não se recebe dessa
forma. Era a vida da classe trabalhadora sendo discutida lá dentro e deveria
haver alguém para negociar e evitar esse tumulto.”
Segundo o presidente da CUT-DF,
Rodrigo Britto, a confusão começou quando um soldado da polícia legislativa
atirou uma bomba de gás nos trabalhadores que queiram participar da sessão da
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), que poderia votar
hoje o PL 4330/2004.
O dirigente foi agredido com golpes
de cassetete na altura do quadril e no rosto e um carro de som da CUT-DF,
popularmente conhecido como “pipoqueira”, também foi destruído.
De acordo com Britto, a restrição ao
acesso da Central à CCJC não é recente. “Não é de hoje que, se você vai à
Câmara com camiseta da CUT, acaba proibido de entrar.”
Continuaremos a luta – Mesmo perante
as agressões, a Central não abandonará a luta contra o PL que escancara a
terceirização e ameaça os direitos de todos os trabalhadores com carteira
assinada.
Secretário de Finanças da CUT-SP,
Renato Zulato, também teve a mão machucada por um cassetete quando tentou
proteger o rosto. Para ele, os policiais demonstraram total despreparo para
lidar com a situação. “Parecia a polícia treinada pela ditadura, que não
dialogava. Fecharam a entrada em todos os anexos e não podia entrar ninguém.
Mas não vamos desistir, enfrentamos a ditadura, não deixaremos de lutar por
nossos direitos e amanhã de manhã voltaremos para cá novamente”, disse.
Clima de revolta – Assessor do
Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Nelson Canezin diz que,
após a atuação desastrosa da polícia, o clima era de revolta.
“Por que os trabalhadores não podem
entrar e os empresários têm livre acesso à Câmara”, questionou.
Ele refere-se a uma manifestação no
dia 14 de agosto, quando militantes contratados por empresários puderam entrar
na CCJC para defender o projeto e, da mesma forma que hoje, militantes cutistas
foram barrados. Clique aqui para saber mais.
Ainda com os olhos, boca e nariz
ardendo devido ao efeito do gás pimenta, o dirigente da Federação Nacional das
Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Ari de Souza,
mostrava perplexididade com a reação dos responsáveis pela segurança pública.
“A Casa exerceu uma papel muito ruim,
um ataque à democracia. A Casa não é do povo? Como, se estão fechando as
portas?”, lamentou.
Porque lutar contra o Projeto de Lei
4330/2004 – De acordo com um estudo de 2011 da CUT e do Departamento
Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o trabalhador
terceirizado fica 2,6 anos a menos no emprego, tem uma jornada de três horas a
mais semanalmente e ganha 27% a menos. A cada 10 acidentes de trabalho, oito
ocorrem entre terceirizados.
Caso seja aprovado como está, o PL
ampliará ainda mais as condições precárias de trabalho e colocará em risco
todos os contratados com carteira assinada, já que permitirá a terceirização
sem limites, em qualquer setor da empresa.
Pronto para ser votado em maio, o
projeto já recebeu aval do relator Arthur Maia (PMDB-BA). Porém, a definição foi
adiada por conta da luta da CUT e das demais centrais. Desde junho, uma mesa
quadripartite contruída por pressão dos trabalhadores discute o tema.
No último dia 28, o Tribunal Superior
do Trabalho divulgou em seu portal um estudo sobre as empresas com processo
julgados nos tribunais trabalhistas brasileiros. Das 20 primeiras do ranking,
seis são do setor de terceirização de mão de obra.
Leia também: Sob repressão policial e
gás de pimenta, CUT impede votação do projeto da terceirização
Texto: Luiz Carvalho - CUT Nacional
Fotos de Walter Campanato (ABr)
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